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A sociedade de consumo morreu, viva a sociedade de consumo !


Bem-estar Organizacional

Como se poderá ensinar sobre o mundo dos negócios sem explicar o que é viver na sociedade de consumo? Isto é , no mínimo, pernicioso.


António Maria tem formação em empreendedorismo com apenas 15 anos. Como lhe poderia eu explicar os riscos de viver na sociedade de consumo? Ainda que metaforicamente, bastará referir, por exemplo, a questão da alimentação, esclarecendo que é diferente ter fome ou ter vontade de comer. Ter fome é uma necessidade legitima, a vontade de comer é um desejo. Eu necessito comer apenas o suficiente. Por isso, se estou gordo é, por norma, porque desejo comer de mais, dificilmente será porque tenho (muita) fome. Passar do mundo das necessidades legítimas para o mundo dos desejos transformou-nos em seres totalmente insatisfeitos.


A sociedade do consumo trouxe-nos a depressão, a falta de foco, a vida sem função. Como no mundo dos desejos tudo é uma ilusão damos agora importância ao que não tem valor na essência. E, isto não se passa só com os alimentos, acontece com tudo o que é resultado de um certo “empreendedorismo”.


Costumo explicar o confronto entre o mundo dos desejos (conceptual) e o mundo nas necessidades (funcional) partindo de experiências vividas por mim próprio.


Um exemplo que dou frequentemente tem a ver com a roupa interior feminina. Este é um exercício que costumo fazer nas minhas aulas e conferências. Escolho entre os presentes dois voluntários, um para ser diretor de produção e outro para ser diretor de marketing de uma qualquer marca de roupa interior feminina. Este é um tema que anima qualquer sessão...


Começando pelo diretor de produção, pergunto: O que é que a sua empresa faz? Por norma, a resposta será “fabrica roupa interior, lingerie”, não anda muito longe disto. Produz sutiãs, bodies, slips... Por outro lado, quando pergunto ao responsável pelo marketing o que é que aquela empresa faz, ele responde: vende erotismo, realiza sonhos, aumenta a autoestima dos seus clientes, mantém a relação entre muitos casais, substitui medicamentos com a vantagem de não ter danos colaterais, etc.


Conclusão, neste caso concreto, passamos da produção de bens com uma função higiénica, de conforto e segurança (slips, sutiãs, bodies,etc) para serviços, ou seja, para uma mera relação psicológica com as coisas. Perde importância a função dos produtos para passarmos a um mundo onde tudo são, agora, conceitos ilusórios, uma mera experiência psicológica, como o erotismo, os sonhos, a autoestima, o desejo, etc.


Continuando no mundo da lingerie, concluo com outro apontamento que é, também ele, real. Passeando num centro comercial, reparei que numa montra de sutiãs existia um enorme lettering que afirmava: “vendemos os melhores decotes do mundo...”. Este é, definitivamente, um mundo sem função, pensei...


O consumo transformou-se no corolário de uma espécie de religião, isto, em grande parte, pela tentativa de mercantilização do que não pode ser comprado ou vendido. E, por que é que isso acontece? Talvez , porque estamos a pensar em vez de reparar. E, mentir é pensar muito e reparar pouco, costumo dizer.


Certo é que pensar nos remete para a experiência consciente mas isso é só uma parte da nossa existência. A escolas deverão alertar as nossas crianças, os nossos jovens, para isso mesmo, deixando de ensinar - exclusivamente - a interpretar a realidade. Note-se que só o reparar nos devolve à atenção, ao foco no essencial. Ou seja, às coisas simples e funcionais.


Por isso, só quando estamos orientados para uma visão mais ampla, transcendente, espiritual, transpessoal, comprometida, humanitária, ecológica, quando estamos sensibilizados para os direitos de todos os seres sencientes e da Natureza, deixamos de ser espectadores do que é viver meramente na ilusão proposta pela sociedade de consumo, passando a ver a vida como ela é, regressando, então, à existência com utilidade prática. De outro modo passaremos pela vida como por um quarto de hotel...

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